terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Reportagem na revista Continente Multicultural do mês de Fevereiro de 2008 exemplar nº 86 já nas bancas na íntegra

ARTES
Arquiteta das palafitas
A artista plástica Elizângela Nascimento recria, a partir de materiais reutilizados, réplicas em miniatura dos barracos de papelão e madeira que ainda são a moradia real de muita gente

Por Olívia Mindêlo Reporter

Enquanto o artista plástico e arte-educador carioca Sérgio Cezar preparava alunos de uma co-munidade de baixa renda no Rio de Janeiro para construir a maquete da favela que vai ao ar na a-bertura da novela “Duas Caras”, da Rede Globo, Elizângela Nascimento já fazia miniaturas de barra-co há cerca de três anos no Recife. A artista plástica pernambucana se autodenomina “arquiteta das palafitas”. Já Cezar batizou seu ateliê-escola de Arquitetura de Papelão. Parece imposição televisiva, mas não é. Elizângela nunca foi aluna do carioca, tampouco havia visto uma de suas criações – e vice-versa. As coincidências que os unem, no entanto, não são à toa. E vão além da vocação ou mesmo da origem social de ambos. Depois que a Rocinha caiu na graça de turistas e a classe média passou a admirar a arte de grafiteiros, por exemplo, a periferia virou moda; aliás, “a estética da peri-feria”. Não por acaso, a saga de Aguinaldo Silva na comunidade da Portelinha e outros programas do tipo, como o de Regina Casé (Central da Periferia), dão audiência. O mesmo acontece com as peças de Elizângela, que já integraram exposições importantes e atraem cada vez mais admiradores, sobretudo com passaporte estrangeiro. Nem mesmo ela acreditava que saindo de Moreno, município da Região Metropolitana do Reci-fe, pudesse um dia viver na capital da própria arte. “Acho que é um trabalho delicado que, nos deta-lhes, consegue retratar a realidade. Chega a ser tocante para quem vê, as pessoas se comovem com essa vida”, procura justificar a “arquiteta das palafitas”. Sejam quais forem as razões para o fenôme-no, não faz vergonha hoje em dia retratar a cultura da favela. Há para ela, aliás, lugar em museus, galerias, filmes e debates acadêmicos, onde quase sempre aparece no status do politicamente corre-to. A própria Elizângela já expôs sua obra na Galeria dos Reciclados da Feira Nacional de Negócios do Artesanato (Fenneart) e no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam), no Recife, em mostra organizada pelo cenógrafo e designer Gringo. Só na semana do Olinda Arte em Toda Parte, em 2007, ela chegou a vender cerca de 20 réplicas de suas palafitas. “Algumas pessoas às vezes me criticam, perguntando por que eu faço palafitas, em vez de outras coisas mais bonitas. Mas eu vejo beleza na favela, adoro a periferia, gosto de retratar o que vejo no dia-a-dia”, diz a artista, que comercializa atualmente suas peças numa casa do sítio histórico de O-linda, por valores que variam de R$ 20 a R$ 3 mil. São objetos com zelo escultórico, mas feitos a partir de materiais absolutamente simples e frágeis – papelão, resto de madeira, durepox, argila, tinta, cola etc., que resultam num trabalho naif, sem preocupação com regras ou proporções. A uma primeira vista passam comuns a um olhar brasileiro, mas basta um passo à frente para adentrarmos numa viagem inventiva e curiosa, cuja riqueza reside na minúcia dos detalhes, a maioria deles bas-tante pitoresca. “Quenga de luxo é 15 real”, anuncia o letreiro do seu “Cabaré de Biu Véia”, inspirado no estabe-lecimento de uma cafetina do Limoeiro, do interior pernambucano, que costumava fazer do seu bar um ponto de prostituição, do tipo “beira de estrada”. A representação feita por Elizângela vai além da realidade. É do tipo “beira de mangue”. Criativa, resume vários aspectos da pobreza, sobretudo com muito humor. E a disparidade entre o tamanho dos bonecos e os objetos que eles seguram aju-da a dar mais vida a essa caricatura. Há de um tudo nessa obra da artista, a maior feita por ela até agora. A artista, aliás, nunca havia visto uma palafita antes de chegar ao Recife, o lugar onde, segundo conta, se descobriu artisticamente. “Mas eu morei em condições parecidas em Moreno. Convivi com essa realidade. Como minha casa ficava perto do rio, foi tomada várias vezes pela enchente. Numa delas, perdemos documentos, móveis e eletrodomésticos”, conta. Elizângela, diferentemente da mãe, que é analfabeta, concluiu o ensino médio e já fez cursos de arte. Além das palafitas tradicionais, a artista já criou outras peças exclusivas na mesma linha, como uma borracharia, em memória a um amigo borracheiro falecido; um lar para um casal de lésbicas, com direito à bandeira gay de arco-íris, para o grupo Divas, em prol da diversidade sexual; e uma casa com uma cena de crime, que batizou como “Tropa de Elite”, depois que viu o filme de José Padilha. Elizângela também faz quadros com cenas da favela em alto relevo, mas o que tem chama-do a atenção são, de fato, seus trabalhos tridimensionais. Ela já recebeu até promessa de expor na Itália e na Alemanha. “Meu sonho agora é que com o dinheiro dessas casinhas eu consiga comprar a minha própria casa”. Os “entendedores” de arte já captaram o recado. Agora é esperar que os cole-cionadores e os museus, principalmente preocupados com a memória da cidade, façam o mesmo. (Leia a matéria na íntegra, na edição nº 86 da Revista Continente Multicultural. Já nas bancas)

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Elizângela das Palafitas

Elizângela Nascimento: É Natural da cidade de Moreno, veio à Recife estudar arte, não conhecia as Palafitas da cidade do Recife e quando as viu, começou a fotografar e a conhecer de perto a realidade das pessoas que moram nas palafitas, tento convivido com mesma realidade, começou a edficar suas maquetes em miniaturas reproduzindo as Palafitas e mostrando a realidade com os minimos detalhes em forma de Maquetes e retratando nas suas obras de arte.
Ateliê: Rua do Amparo, Nº: 95, Olinda - Pe - Brasil.
E-mail: elizangelarte@hotmail.com
Fone: 081 9208 1223